quinta-feira, 22 de março de 2012

“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir” (Jo 10.10).


Há quem divulgue que o diabo é quem veio matar, roubar e destruir. Seria o diabo o ladrão que Jesus faz referência? É comum ouvirmos mensagens enfatizando que o diabo veio para matar, roubar e destruir a saúde, a família e as finanças do homem. Outros alegam que o diabo veio para matar, roubar e destruir a paz, a fé, a esperança, o amor, a salvação, etc., do cristão.
Seria isto verdade?
A bíblia nos garante que Cristo é a nossa paz, fé, esperança, amor e salvação. O diabo seria capaz de roubar, matar e destruir o cristão?
Após dizer aos escribas e fariseus qual era a sua missão, Jesus propõe uma parábola a eles. A missão de Jesus é clara: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos” (Jo 9.39). O que Jesus quis dizer com estas palavras, se Ele mesmo disse que a ninguém julga (Jo 8.15). Ora, os textos abordam aspectos diferentes da missão de Jesus. Quando Ele diz que ‘a ninguém julga’, evidência que o mundo já foi julgado e está sob condenação (Rm 5.18 ; Jo 16.11 ; Jo 3.18). E, quando Ele diz que ‘veio ao mundo para juízo’, demonstra que a sua presença neste mundo é cumprimento cabal das Escrituras.
Ora, o Bom pastor diz de Cristo, o Servo do Senhor, portanto, um homem. De igual modo, os que vieram antes de Cristo só podem ser homens e não o diabo. Ora, o diabo não é o ladrão, o salteador que a parábola apresenta diz dos lideres de Israel, homens que tinham a função de ‘cuidar das ovelhas do Pai’, porém, prevaricaram nas suas atribuições.
Jesus enfatiza que todos os que vieram antes d’Ele são ladrões, salteadores, mas as ovelhas não os ouviram (v. 8). Novamente Jesus identifica-se como a porta e faz um convite na condição de Bom Pastor: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens” (v. 9). Diversas vezes os fariseus leram acerca da porta que os justos deveriam entrar, mas diante da porta estavam como que cegos: "Esta é a porta do SENHOR, pela qual os justos entrarão" (Sl 118.20).
Por terem nascidos segundo a carne e o sangue de Abraão, consideram que já haviam entrado pela porta dos justos, porém, como não tinha a mesma fé que o crente Abraão que creu que no seu Descendente as famílias da terra seriam bem-aventuradas para ser justificado, ainda continuavam sendo filhos da ira e da desobediência, porque haviam entrado pela porta larga, que é Adão. Por terem entrado pela porta larga, que é Adão, os fariseus haviam se desviado desde a madre, em iniquidade e em pecado foram formados, de modo que estavam em igual condição a todos os homens (Sl 58.3; Sl 51.5; Sl 53.2 -3). Quando Jesus se apresenta como a porta, apresentou-se na condição de último Adão, a porta dos justos. Os fariseus rejeitaram a pedra de esquina, a vítima, a luz, o bendito que veio em nome do Senhor (Sl 118.1-29).
Enquanto os que vieram antes de Cristo somente roubavam, matavam e destruíam, Jesus contrasta a sua missão com a deles “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (v. 10). Por que eles eram ladroes? Porque eles eram obreiros da iniquidade, que se alimentavam do povo como se fosse pão “Acaso não têm conhecimento os que praticam a iniquidade, os quais comem o meu povo como se comessem pão? Eles não invocaram a Deus” (Sl 53.4 ). Os lideres de Israel eram ladrões, salteadores por subtraírem a palavra de Deus que concede vida aos homens. Sob o pretexto de sacrifícios (orações prolongadas, jejuns, festas, dias, luas) extorquiam a casa dos necessitados (viúvas, órfãos) (Mt 23.14). ‘prolongadas orações’ é figura de sacrifícios, e viúvas e órfãos são figuras utilizadas para ilustras os necessitados, os pobres de espíritos. Quando os fariseus ensinavam que não era necessário aos filhos de Israel dar aos seus pais o que pediam sob o pretexto de que fora oferecido como oferta ao Senhor, criaram um subterfúgio para não observarem a lei que tanto idolatravam (Mt 15.5). Além de roubar, as palavras que proferiam eram palavras de morte, pois todos os que ingeriam os seus ‘ovos’, tornavam-se serpentes (Is 59.5). Todos que se tornavam prosélitos tornavam-se duas vezes mais filhos do inferno (Mt 23.15).
As ovelhas pertencem ao Pastor e o Pastor tem cuidado delas. Já o mercenário, por não ser o pastor, a quem as ovelhas pertencem, vê o perigo e o risco, mas não se interpõe de modo a proteger o rebanho. Diante do perigo, deixa as ovelhas e foge (Jo 10.12). Os lideres de Israel foram os responsáveis pela dispersão (diáspora) dos filhos de Israel por não acatarem o contido nas Escrituras e a maldição predita por Moisés sobreveio ao povo (Dt 29.27-28). Mesmo após terem percorrido o deserto sobre a liderança de Moisés, Deus já protestava contra eles que não lhes foi dado olhos para ver, ou seja, estavam cegos “Porém não vos tem dado o SENHOR um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Dt 29.4).
O povo tornou-se comparável a ovelhas perdidas, pois deixaram o Senhor (lugar de repouso) e passaram a confiar na proteção oferecida pelas nações (montes e outeiros) vizinhas através de alianças "Ovelhas perdidas têm sido o meu povo, os seus pastores as fizeram errar, para os montes as desviaram; de monte para outeiro andaram, esqueceram-se do lugar do seu repouso" (Jr 50.6; Os 7.1 e 11 ; Sl 50.16-18).
Da mesma forma que os profetas falavam ao povo por enigmas e parábolas, Jesus retransmite a mesma mensagem demonstrando que haviam transformado a casa de Deus em uma ‘caverna de salteadores’, um ‘covil de ladrões’ "É pois esta casa, que se chama pelo meu nome, uma caverna de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o SENHOR" (Jr 7.11 ); "Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e anda atrás das recompensas; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva" (Is 1.23); "E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões" (Mt 21.13); "Como as hordas de salteadores que esperam alguns, assim é a companhia dos sacerdotes que matam no caminho num mesmo consenso; sim, eles cometem abominações" (Os 6.9); "SARANDO eu a Israel, se descobriu a iniquidade de Efraim, como também as maldades de Samaria, porque praticaram a falsidade; e o ladrão entra, e a horda dos salteadores despoja por fora" (Os 7.1).
Como os lideres de Israel prevaricaram em suas atribuições, estavam surrupiavam o povo da Verdade que Deus lhes dissera. Em nenhuma das referências bíblicas do A. T. ha Deus fazendo referência aos demônios como os ladrões, ou salteadores, porque Deus trata na sua palavra com os homens e não com os demônios ou com os animais. O apóstolo Paulo é claro: Tudo o que a lei diz, diz aos que estão debaixo da lei (Rm 3.19), de modo que tanto os judeus quanto os gentios são escusáveis diante de Deus.
Do mesmo modo que o Pai conhece o Filho de modo que ambos são um, a igreja conhece o Pai e o Filho, pois em Cristo são um só corpo "E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um" (Jo 17.22). ‘Conhecer’ é o mesmo que tornar-se um (v. 15). Jesus foi enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel "E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 15.24), mas não ouviram aquele que se apresentou como descanso e refrigério ao cansado. Como não deram ouvido, o Bom Pastor lançou mão de ovelhas tiradas dentre os gentios. As ‘ovelhas que não são deste aprisco’ é uma referencia aos gentios que, após ouvirem a mensagem do evangelho, tornaram-se coerdeiros da mesma promessa (v. 16). Quando Jesus declarou que ‘Deus o amava’ em virtude de dispor da sua vida e que lhe foi dado autoridade para tornar a tomá-la, os judeus nada compreenderam e houve dissensão entre eles por causa destas palavras (v. 19). Uns passaram a dizer que Jesus tinha demônio e estava louco, enquanto outros consideravam que tais palavras não podiam ser de um endemoninhado, pois tinha poder de dar vista aos cegos (v. 21).
O diabo não pode roubar, matar ou destruir o corpo de Cristo Em primeiro lugar, vale destacar que é impossível ao diabo roubar o cristão, pois o cristão está escondido com Cristo em Deus, e esta é a certeza do cristão: “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8.38-39); "Mas fiel é o SENHOR, que vos confirmará, e guardará do maligno" (2Ts 3.3).
Em segundo, lugar é impossível o diabo roubar a paz, a esperança, o amor, etc., pois as ‘qualidades’ enumeradas referem-se ao ‘fruto’ do Espírito, e não do cristão, de modo que é impossível ao diabo roubar a Deus “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5.22).
É o Espírito que produz amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança naqueles que estão ligados à Videira verdadeira (Jo 15.5). Ou seja, sem Cristo é impossível ao homem produzir fruto, pois Deus diz: “...de mim é achado o teu fruto” (Os 14.8).

Em terceiro lugar, quem veio matar, roubar e destruir não foi o diabo, como já demonstramos. Como o diabo roubaria aquele que está escondido com Cristo em Deus?

A parábola faz referência aos líderes de Israel quando fala do ladrão, portanto, é um erro aplicar a passagem de João 10, verso 10 como sendo o diabo o ladrão que consta na parábola.

Um comentário:

  1. Concordo! E mais: o verbo vir está no presente (daquela época). Quando declaramos que o diabo veio para tal, estamos desconsiderando a razão pela qual o Deus-Pai enviou o Seu Filho: para DESFAZER as obras do diabo. Portanto, concordo com a sua abordagem, professor Mario Filho.

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